segunda-feira, 29 de abril de 2013

Os cinco melhores faroestes italianos


Com Django Livre, o novo filme de Quentin Tarantino, sendo alvo de controvérsias e atingindo sucesso de crítica e de público temos depois de incontáveis anos um western ganhando destaque real novamente. Grande fã de faroestes italianos, Tarantino aproveitou seu bang-bang sulista com jeitão de spaghetti western para homenagear o gênero e relembrar ao mundo a existência deles. Não conhece os faroestes macarrônicos? O Robozilla preparou uma lista com o suprassumo do western all'italiana.


É injustiça eleger apenas os cinco melhores, considerando a quantidade imensa de faroestes italianos -- estima-se que mais de 600 westerns tenham sido produzidos na Europa entre os anos 1960 e 1980. Mesmo se contarmos somente a "trindade de Sergios", formada por Sergio LeoneSergio Corbucci e Sergio Sollima, já temos mais de uma dúzia de filmes memoráveis que deixaram sua marca no gênero e no cinema mundial. 

Em sua maioria filmes de baixo orçamento, e geralmente mais sujos, violentos, estilosos, caricatos e socialmente críticos do que os faroestes estadunidenses, osspaghetti western influenciaram outros países a produzirem westerns -- como a Espanha, com seus paella western; a Índia com os curry western; e até o Brasil com os feijoada western -- e hoje transcendem o gênero e o cenário em suas influências.

Não figuram na lista mas merecem "menção honrosa": Por uns Dólares a Mais; Os Violentos Vão para o Inferno; Quando Explode a Vingança; O Dólar Furado; Viva Django!; Vamos a Matar, Compañeros; Meu Nome é Ninguém; Uma Pistola para Ringo; O Retorno de Ringo; e O Justiceiro Cego.

O Grande Silêncio (1968)

Um filme que exemplifica bem a distância abissal entre os faroestes americanos e os italianos. O humor negro de Corbucci -- evidente em Django, onde dá a seu personagem uma condição análoga à do jazzista Django Reinhardt -- paira sempre sutil. Aqui o protagonista, Silêncio, é um pistoleiro mudo: a resposta exagerada de Corbucci à tendência que os faroestes seguiam de ter protagonistas cada vez menos faladores.

A história se passa durante a grande nevasca de 1889, em Utah, quando, devido às intempéries, moradores de uma vila têm que roubar para sobreviver. Em resposta, as autoridades instituem recompensas sobre as cabeças daqueles que roubam; o que atrai um grupo de caçadores de recompensa violentos e inescrupulosos encabeçados por Loco. Com a situação insustentável, uma local (Pauline) contrata Silêncio para matar Loco e livrar a vila.

O final pessimista e anticlimático rendeu ao filme censura em alguns países -- e Sergio Corbucci foi forçado a filmar um novo final para os mercados asiático e norteafricano.

Trailer de O Grande Silêncio

Django (1966)

Django foi o único filme que conseguiu gerar mais de trinta sequências não-oficiais, muitas das quais não têm nenhuma relação ao menos mínima com o original de 1966 além de serem faroestes e terem um personagem com o mesmo nome. Além disso, em alguns países o título e a dublagem dos filmes eram alterados pra que alguém se chamasse Django -- ou não, como é o caso de L'uomo l'orgoglio la vendetta, que no Brasil recebeu o nome de "Django não perdoa, mata" mas que sequer tem um personagem com esse nome.

No original de 1966, Django é um ex-soldado que carrega um caixão de madeira por onde vai. O olhar penetrante de Franco Nero e a aura mística do personagem, que, apesar de sombrio, é mais um romântico amargurado, renderam ao personagem de Sergio Corbucci um lugar na cultura pop mundial -- e direta ou indiretamente na filmografia de todo diretor de faroeste que se preze.

Trailer de Django

Por um Punhado de Dólares (1964)

Foi aqui que tudo começou. Já havia faroestes made in Itália antes de 1964, mas foi Por um Punhado de Dólares que definiu a identidade deles. O anti-herói mais famoso do cinema western, Homem Sem Nome, alçou Clint Eastwood ao estrelato e definiu um novo paradigma para os mocinhos da sétima arte. A trilha sonora, os créditos de abertura, os duelos, os diálogos afiados, tudo foi copiado depois.

Considerado um remake não-oficial de Yojimbo -- coisa que inclusive rendeu um processo por parte da Toho --, o filme conta a história de um pistoleiro errante que chega a uma cidade controlada por dois grupos rivais. O pistoleiro sem nome faz jogo duplo, vendendo seus serviços pra ambos os lados enquanto tenta lucrar o máximo que pode. Apesar de mercenário, o anônimo demonstra compaixão ao ajudar um casal oprimido, mostrando que nem o mais frio matador é unidimensional.

Ritmo lento, com rompantes de violência, muitos closes e protagonistas engenhosos viriam a ser constantes nos faroestes italianos, mas o primeiro da Trilogia dos Dólares foi a vanguarda.

Trailer de Por um Punhado de Dólares

Era uma Vez no Oeste (1968)

O filme mais grandiloquente de Sergio Leone. Com seus três filmes anteriores, Leone ganhou nome e fundos para produzir este. Era uma Vez no Oeste é uma elegia aos faroestes. Uma elegia ao mundo violento, e ao mesmo tempo poético, que ele amava. 

Charles Bronson é Gaita, um pistoleiro misterioso que prefere tocar gaita a falar -- e as poucas dezenas de palavras que saem da boca dele durante os 145 minutos de filme são minunciosamente escolhidas. Ao longo do seu caminho de vingança pessoal, Gaita encontra uma ex-prostituta que perdeu a família, um ladrão gente-boa e um homem que quer construir linhas ferroviárias que cruzarão os EUA de costa a costa.

Quando os créditos finais sobem enquanto vemos os trilhos sendo construídos, a civilização chegando, sabemos que é o fim de uma era -- o oeste mudará para sempre, não há mais fronteiras.

Trailer de Era uma Vez no Oeste

Três Homens em Conflito / O Bom, o Mau e o Feio (1966)

Indiscutivelmente o mais conhecido, referenciado e parodiado faroeste de todos os tempos. É praticamente impossível não conhecer a inconfundível trilha sonora deEnnio Morricone. Com esse filme, Leone mostra que, numa terra e numa época hostil, o bom não é tão bom assim; o mau é muito mau e muito feio; e o feio também é bom, e também é mal. No oeste spaghetti até os heróis são um pouco vilões -- diferentemente daqueles dos faroestes deJohn Ford. Aqui não há branco e preto, aqui há conveniência e esperteza. E até compaixão pelos que morrem numa guerra sem sentido.

A assinatura de Sergio Leone é inconfundível: closes fechadíssimos, duelos onde o tempo parece se dilatar (para depois disparar junto com as balas), protagonistas com habilidades extraordinárias, e um cinismo leve, sempre no ar. Tudo isso se tornou "leoniano". 

Irônico, empolgante e tenso, Três Homens em Conflito é a epítome do faroestespaghetti e facilmente está entre os melhores filmes da história do cinema.

Trailer de Três Homens em Conflito/ O Bom, o Mau e o Feio

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